english (translated) // Since our first moments in this world, we have observed it.
I believe that the importance of discussing design rests in that experience. This might seem vague, but I will try to make myself clear:
We are born.
At this very moment, our body starts to feel and reverberate stimuli, stimuli that are audible, visual, tactile, chemical, mechanical, emotional, subjective…
Whichever species of living being you were born as, you start a constant stimuli exchange, responding to the environment you are immersed in. When we observe, depict and question the world, we collect data and reproduce it in a personal manner. Each one of us creates its own filter (real or virtual).
The dissociation present in the human experience nowadays intrigues and frightens me, because I see the enormous collective-organic-organism we are embedded in. But not only that! We belong to it. When did we tangle the wires?
Within that resides, to me, the importance of discussing design once again.
It can be done through Nature’s observation-awareness, understanding that we can co-exist in harmony – or at least less precariously – with her.
So, think about it… so much reasoning withdrew us from our heart and soul, our essential connection with Nature. It led us to believe we are attached to her. When we are her1.
When I think about design, it leads me to Permaculture and its first design principle: ‘Observe and Interact’. This is the way that we re-learn the water pathways, with the means to use their nature to reserve energy.
Brought to the world in the middle of political and environmental movements that took place in the 1970s, Permaculture defends the idea of a permanent and prosperous culture for all forms of life. For this, it presents ethical principles and design principles, which can act as the guiding thread of this movement. There are three ethical principles:
1. earth care;
2. people’s care;
3. resources fair share.
There are twelve design principles and they seek, in a poetic way, to guide us along a path towards a fair and critical environmental culture.
Sometimes, when I have a difficult time solving a problem or developing a project, I like to use some of the design principles and it’s fascinating how they work! It allows me to understand why they’ve chosen the word “design” to promote its principles, and, to me, it makes sense! It’s a way to see things as they are and try to replicate it to promote abundance, equality and life.
It seems like Permaculture sees design as energy, movement, observation and interaction. It tries to show (or make us realise) that ‘the least effort’ way is the recognition of Nature’s knowledge and patterns and it favours all living beings. And it’s better! Isn’t it?
Think about it: how would it be, from a permaculture perspective, the construction of parks, buildings, neighbourhoods and (why not?) entire cities? How much would it benefit from those ethical principles based on care and design principles to guide planning?
Undoubtedly, we would have much more integrated and functioning environments, based on organic patterns and structures, built for all beings that inhabit it. It would be interesting to observe the enhancement this could bring in terms of people’s quality of life and local biodiversity.
Nowadays it is already possible to see these principles into practice in places as ecovillages. However, my interest is to see it scaling up into greater urban centralities that – as we know – are full of struggles that break possibilities of a safe and sound life.
In this sense, it is urgent to develop a design intimately linked with the permanent culture, with knowledge based on ancestrality and looking towards a common future.
At least, this is what I believe.
1In portuguese, nouns are gendered. Nature is feminine, and being part of a feminine entity in this case is important for the text’s association with feminist theories.
portuguese (original) // Desde o nosso primeiro momento nesse mundo nós o observamos.
Acredito que, para mim, está aí a importância de discutirmos design. Para que não pareça vago, vou tentar me explicar:
Nascemos.
Nesse instante imediato nosso corpo passa então a sentir e reverberar estímulos. Sonoros, visuais, táteis, químicos, mecânicos, emocionais, subjetivos…
Seja lá qual espécie de ser vivo que você nasça, você inicia essa troca constante de estímulos e respostas com o ambiente no qual você está inserido. Ao observar o mundo, interpretá-lo, questioná-lo, coletamos suas informações e fazemos dela uma reprodução e cada um de nós tem sua própria tela (real ou virtual).
Muito me interessa e me espanta o distanciamento que hoje vemos os seres humanos tendo desse enorme coletivo-orgânico-organismo no qual estamos inseridos. Não só! Do qual fazemos parte. Quando nos embolamos nesse fio?
Aí está, para mim, a importância de discutirmos design.
É a partir da observação-valorização da natureza que podemos coexistir de forma harmônica – ou menos danosa – com ela, que somos nós.
Veja só… tanto pensamento nos afastou da essência que nos unia com a natureza, nos fez achar que não pertencemos a ela. Quando somos ela.
Quando penso em design lembro da permacultura.
Seu primeiro princípio é “Observar e interagir”. E é assim que aprendemos os caminhos das águas, os movimentos a favor da energia, a reserva de energia.
A permacultura surgiu em meio a discussões político-ambientais que surgiram na década de 1970, defendendo a ideia de uma cultura próspera e permanente para todas as formas de vida. Para isso, ela apresenta princípios éticos e de design, que podem servir como fios condutores deste movimento. Os princípios éticos são três:
1. cuidado com a terra;
2. cuidado com as pessoas;
3. compartilhamento justo de recursos.
Os princípios de design são variados e buscam, de uma forma poética, guiar-nos em uma caminhada para uma cultura crítica e justa em relação ao meio ambiente.
Às vezes, quando estou tendo dificuldades com projetos ou problemas na vida, eu procuro usar alguns dos princípios de design propostos pela permacultura, e é incrível como funciona! Isso me faz entender como e por que o movimento optou pela palavra “design” a fim de promover os seus ideais… Faz muito sentido, uma vez que a permacultura é, afinal, uma maneira de ver as coisas coisas como elas são em essência, para então tentar replicá-las em função de gerar abundância, equidade e vida.
Parece que a Permacultura enxerga design como energia, movimento e interação. Ela tenta nos mostrar (ou nos fazer entender) que o caminho do “menor esforço” é uma forma autêntica de reconhecer a sabedoria da Natureza e seus padrões, que favorecem todos os seres vivos. E isso é muito melhor, não é mesmo?!
Imagine pensar a construção de praças, prédios, bairros e, por que não, cidades inteiras sob uma perspectiva permacultural, cuidando dos princípios éticos e utilizando os princípios de design como guia nesse planejamento.
Sem dúvidas teríamos ambientes mais integrados e funcionais, com padrões e estruturas orgânicas, para todos os seres que nele vivem. Seria interessante observar as mudanças que isso poderia trazer na qualidade de vida das pessoas e em relação à biodiversidade local.
Podemos ver esse tipo de design permacultural sendo desenvolvido em alguns ambientes, como em algumas ecovilas. No entanto, é do meu interesse, ver esse tipo de prática tomar os grandes centros urbanos que, sabemos, estão cheios de questões que rompem as possibilidades de uma vida segura e com qualidade.
Nesse sentido, um design atrelado à uma cultura permanente, com saberes pautados na sabedoria ancestral e com o olhar no futuro comum, é urgente.
Pelo menos eu acho.
author
Ana is a Biologist, MSc in Community Psychosociology and Social Ecology at Federal University of Rio de Janeiro and Professor at the Brazilian public education sector. Together with Sustentarte, she researches and develops educational projects designed in a permacultural manner aiming a critical environmental education that promotes the emancipation of knowledge, the autonomy of individuals and can redefine human-nature relationships. She believes that Agroecology and Permaculture will be the weapons that should be used for the benefit of life and food security in the times we live in and in the future, seeking to help strengthen these movements.
first published for projektado magazine issue 0: why discuss design today? / january 2021